Na marcenaria nada se perde, tudo se transforma!
Conheça ideias inovadoras de pessoas que usaram a criatividade e a inteligência para reutilizar e transformar sobras de MDF em outros produtos
Sabe aquelas sobras de MDF e pó de serra que são gerados durante algum processo nas marcenarias? Eles geralmente são descartados em locais como os ecopontos ou recolhidos por empresas especializadas. Mas, você sabia que essas sobras podem ser reutilizadas e transformadas em outros produtos?
Algumas iniciativas de pessoas e até mesmo de marcenarias têm mudado um pouco essa visão de que sobras de MDF devem ser descartadas. Afinal, há oportunidades de utilizar esses materiais para outras finalidades como um hobby artístico e até mesmo como um negócio.
É o caso de Dagma Helena Vieira Machado. Mineira natural de Poços de Caldas, mora em Campinas – SP há 23 anos, é formada em Biologia com especialização em Citologia, Histologia, Biologia Celular e Molecular e hoje trabalha como Professora e Artesã, utilizando principalmente a madeira para os seus projetos. “Começou como hobby há 20 anos, mas hoje é minha profissão. Dou aulas atualmente em casa”, conta.
Dagma explica que o costume de utilizar sobras de madeira para criar novos objetos é herança de família. “Meu pai era carpinteiro. E com isso, em casa, todo tipo de madeira que ele recolhia de sobra de obra virava alguma coisa”, afirma.
“Tivemos bancos, mesas, cadeiras, cabos de ferramentas dele, prateleiras e tudo que dava pra se usar. Por esse motivo, nunca deixamos uma sobra sequer sem utilidade. Herdei dele esse costume”, completa.
A mineira hoje produz quadros e suportes de peças para pintura decorativa em madeira e MDF, pintura country e outros trabalhos. Ela relata que não possui maquinário de marcenaria e dispõe apenas de uma lixadeira. Por isso, quando precisa cortar ou montar alguma peça, recorre a marceneiros que a auxiliam.
Sobre o motivo de utilizar sobras de madeira, Dagma é enfática: “Me sinto na responsabilidade de fazer isso. Já que tenho talento [acho eu] e o fim de olhar uma simples tábua e já iniciar uma peça utilitária com ela. Para mim não existe madeira velha. Tudo pode ser transformado. Me sinto mais que feliz em saber e poder transformar pra melhor”. Os trabalhos de Dagma podem ser vistos e comprados no Instagram Vila Vieira.
A criatividade como forma de renda
Dagma não é única que usou a criatividade para produzir e transformar sobras de MDF e madeira em outros produtos. O auxiliar administrativo Tiago Henrique de Oliveira também se cria materiais a partir de sobras. Ele conta que essa atividade surgiu em um momento de dificuldade financeira que passou.
“Minha mãe ficou sem trabalho e para ajudar tive a ideia fazermos vasos de jornal. Com o sucesso das vendas, pensei ‘por que não com madeiras?’, que vão paro lixo e você encontra em calçadas e caçambas”.
E foi utilizando madeiras descartadas por marcenarias ou até mesmo em lixo comum que encontrava por Osasco, cidade onde mora, que Tiago passou a criar diversos objetos para vender, como carrinhos, vasos, janelinhas com floreira e outros. Atualmente ele não vende mais esses trabalhos, mas continua produzindo como hobby.
Tiago diz se sentir honrado em fazer esse trabalho e explicou o porquê: “Por meio desse trabalho estou tirando do mundo toneladas de madeiras descartadas, que podem ser reaproveitadas e assim ter um consumo consciente, podendo até mesmo gerar emprego porque já tive pessoas trabalhando comigo”.
Diferente de Tiago que agora produz trabalhos com descartes de madeira como hobby, Paulo Nara transformou isso em um negócio: a Nara Wood Design, uma marcenaria criativa. Ele lembra que sempre foi uma pessoa autodidata, curiosa, criativa e interessada em trabalhos manuais e ferramentas desde pequeno. E isso o influenciou a hoje ter uma paixão pelo pó e cheio da madeira.
“Acho que a criatividade e ter algumas ferramentas básicas foram a chave para eu começar a desenvolver algumas peças a partir de pedaços de madeira”, afirma Paulo sobre a ideia de desenvolver materiais a partir de sobras de madeira.
“A Nara Wood Design surgiu depois de eu postar alguns dos meus trabalhos no meu Facebook e Instagram pessoal. Aí percebi que era a hora de criar uma identidade visual e um nome em que as pessoas pudessem reconhecer o meu trabalho”, explica.
As redes sociais foram grandes aliadas de Paulo no início. Ele lembra que, ao publicar seus trabalhos em suas redes, amigos e vizinhos sempre pediam para que produzisse peças para eles. “No ano passado decidi que alguns dos meus produtos eu poderia começar a vender e obter uma renda através da minha criatividade”, exclama.
Paulo produz molduras de quadros, luminárias e alguns brinquedos para o seu filho. Ele vende esses produtos criados a partir de sobras de madeira em uma loja on-line (clique aqui).
“É gratificante você poder transformar um simples pedaço de madeira, que poderia ser descartado, em algo que as pessoas admiram e tenham interesse por este tipo de trabalho”, afirma Paulo sobre o prazer como se sente apresentando seu trabalho.
Soluções das marcenarias
E não são apenas pessoas físicas que viram nas sobras de madeira, MDF e outros materiais como oportunidades de negócio. Marcelo Del Posso, dono da marcenaria A Instaladora, conta a solução que encontrou para resolver dois problemas que enfrentava: dar uso às sobras de MDF que ficam após produzir os produtos e manter seus funcionários sem tempo ocioso enquanto esperam novos pedidos.
“Entre um serviço e outro, há momentos nos quais os funcionários esperam um material chegar para produzir. Como minha marcenaria vende produto de série e as sobras são sempre iguais, resolvi colocar meus funcionários para produzirem casinhas de gato com essas sobras enquanto esperam pelos grandes pedidos”, afirma o empresário.
Para vender essas casinhas de gato, Marcelo coordenou para que sua irmã abrisse um e-commerce para vendê-las, já que seria inviável comercializá-las em sua marcenaria. Cada peça produzida sai por R$ 110. “Do ponto de vista financeiro não é satisfatório, mas você tem certeza que o aproveitamento é bom”, explica.
Além das casinhas de gato, a marcenaria de Marcelo ainda faz um trabalho com pó de serra fino de MDF. O pó de serra que sobra é ensacado e vendido a pet shops da região da Vila Ré, onde está localizada a marcenaria. “O lucro é insignificante, mas você tem certeza do destino apropriado [do pó de serra]”, enfatiza.
Marcelo destaca que essas ações são demandas secundárias ao trabalho que seus funcionários realizam na marcenaria. Ele relata que esses esforços que faz para tornar esse processo possível levam em torno de quatro meses. “O lixo vira pedido. São coisas que a vida me ensinou”, conclui.