Giba: o sonhador responsável pela criação do Leo Social
O Leo Social, organização mantida pela Leo Madeiras, existe desde 2006 e foi criado no intuito promover o trabalho e a moradia digna por meio de diversos projetos, como a Escola da Marcenaria. A Escola da Marcenaria, principal projeto do Leo Social, já formou mais de 8 mil profissionais ao longo desses anos. E se o Leo Social existe hoje é por causa de pessoas sonhadoras, como Gilberto de Almeida Gomides, marceneiro e instrutor da Escola da Marcenaria.
Giba, como é carinhosamente chamado, entrou no setor moveleiro de uma forma inusitada. “Comecei no ramo de marcenaria como curioso e também para tirar o estresse que eu estava na época. Trabalhava como vendedor em redes de supermercados, e não estava legal”, conta.
A curiosidade de Giba o levou a fazer um curso de marcenaria promovido pelo Senai. “No início me questionei se conseguiria aprender, porque eram muitas máquinas no curso”, lembra. Ele concluiu o curso e a partir daquele momento começava a sua história com a marcenaria.
Logo após se formar pelo Senai, Giba e seu professor, Edmilson, montaram uma marcenaria. “Como eu tinha uma verba, que guardei da empresa em que trabalhei por 16 anos, estava com uma grana boa e abrimos a marcenaria”, explica. “Fiquei mais de um ano junto com o Edmilson. Não deu certo e parti para outra”, admite.
Durante o tempo em que teve a marcenaria, Giba fazia cortes de madeira para Wilson, um rapaz que produzia brinquedos pedagógicos e outros objetos de artesanato com madeira. “Como ele não tinha o maquinário para fazer alguns cortes, ele ia até nós para isso”, recorda.
Na marcenaria, além de Edmilson, Giba contava com a ajuda de Alex, um garoto que perdeu a mãe logo cedo e precisava de um rumo.
“A irmã do Alex chegou um dia na marcenaria e perguntou se eu podia ensinar alguma coisa para ele, porque ela trabalhava e tinha medo de deixa-lo sozinho, já que onde eles moravam era muito perigoso. Fiquei com esse menino, super simpático, e ensinei o trabalho. E ele não ficou lá de graça. Eu pagava um valor e a irmã dizia que ele recebia muito, inclusive”, narra Giba.
E foi vendo Giba ensinar Alex que Wilson, o rapaz dos brinquedos pedagógicos, percebeu o dom que Giba tinha em ensinar. “O Wilson viu potencial em mim e me convidou para dar aula em seu lugar. Eu estranhei de início, disse que nunca tinha dado aula e que não iria. O Wilson insistiu e disse que eu levava jeito e tinha paciência para ensinar, isso por conta do Alex. Eu acreditei e aceitei o desafio”, revela.
Giba passou a dar aulas de marcenaria na Escola Estadual Padre Tiago Alberione, em São Paulo. Ele conta que se apresentou à diretora da Escola, Flávia, e logo de cara se surpreendeu – negativamente – com o local. A marcenaria era uma cozinha abandonada que a escola não precisava mais. Além de ser pequeno, o lugar não era adequado para a atividade, já que tinha piso escorregadio.
Como solução, Giba sugeriu de construir um galpão de madeirite no terreno ao redor da escola. A ideia foi aceita e com isso foi construído um galpão para acomodar a marcenaria. Com mais espaço à disposição, o local tinha 15 bancadas e máquinas manuais e estacionárias para prática da atividade.
O agora professor de marcenaria passou a ensinar a profissão para adolescentes de 13 a 17 anos de idade.
“Foi uma experiência muito gratificante, porque todos os alunos que a Flávia mandava para mim eram alunos que tinham problemas, seja judicial ou de mau comportamento. Ela mandava o B.O. pra mim”, brinca Giba. “Ela falava ‘o seu Gilberto resolve’ e eu realmente conseguia resolver. Formei vários profissionais e vários deles hoje estão com a sua marcenaria, outros foram para o interior e aqueles que não foram para marcenaria construíram suas famílias graças ao projeto”, enaltece.
Depois de tudo, Giba ainda criou uma cooperativa junto com alguns amigos e ex-alunos. O projeto estava indo de vento e popa até que, após dois anos, um dos diretores aplicou um golpe, deixando Giba e Olintho, um dos sócios, com uma dívida de mais de R$ 14 mil com a loja Leo Madeiras, de Diadema – SP. Giba conta que ele e Olintho eram cobrados todos os dias. Aos poucos todos da cooperativa desistiram do projeto, com exceção de Olintho.
“Fui na Leo tentar uma possibilidade de solucionar com o gerente da loja, Zamana. Expliquei toda a situação, falei pra ele que estava difícil, mas que iríamos pagar. Ele ouviu a nossa história, ligou para o departamento e falou que seria nosso fiador”, relata.
Após alguém contar sua história, Giba conseguiu um trabalho pontual para produzir e instalar carrinhos para guardar brinquedos. Com o serviço, ele e Olintho conseguiram pagar a dívida com a Leo.
Nasce o Leo Social
Paralelo a isso, o professor Giba escreveu um projeto para apresentar à Leo Madeiras. A ideia era ter um instituto para ensinar marcenaria a jovens, algo que a Leo já vinha estruturando há algum tempo. “Com o projeto pronto, fui à Lapa conversar na central da Leo. Fui várias vezes, quase cinco vezes, até que aceitaram a ideia”, lembra. Em 2006, com a ajuda de Giba e colaboradores da Leo Madeiras, foi criado o Instituto Leo.
“Na parte da manhã eu dava aula para as crianças e quem me reembolsava era o Instituto Leo. Ficou uma parceria por muitos anos. O Instituto Leo tinha escolas parceiras no Grajaú, Santo Amaro, Diadema, Heliópolis e mais. Estava muito bem, até que surgiu uma lei que não podia dar aula de marcenaria para menores de 18 anos e acabamos com a parceria com essas instituições”, afirma.
O Instituto Leo seguiu então capacitando maiores de 18 anos. Após todos esses contratempos, Giba segue como professor da Escola da Marcenaria, que absorveu os cursos do até então Instituto Leo – hoje chamado de Leo Social.
“Estou aqui todos esses anos. Ministro aula em Diadema no projeto da Escola em parceria com o Tabea e gosto do que faço. E nesse período todo foram formados diversos profissionais. Muitos empregam meus alunos para trabalhar com eles, porque acreditam no projeto”, agradece.
Todo o impacto social que o Leo Social tem hoje em realizar projetos, como a Escola da Marcenaria, só foi possível por pessoas como Giba e colaboradores da Leo Madeiras que sonharam com isso. Mesmo com adversidades, Giba nunca deixou de sonhar e acreditar em mudar a vida das pessoas.
“O sonho é vivido, realizado e dividido com todos os que sonham junto. É acreditar e correr atrás de parcerias. Este meu sonho hoje é uma realidade e se Chama Leo Social, que há 16 anos promove conhecimento na arte da marcenaria”, conclui Giba.