A mulher na marcenaria: “somos muitas, mas é um caminho árduo”
A marcenaria é um espaço democrático, ocupado por homens e mulheres que, por tradição ou paixão, escolhem trabalhar como marceneiro (a), como é o caso de Joici Ohashi, criadora da Oh! Eu que fiz – marcenaria.
Formada em Design de Interiores, a paixão de Joici pela marcenaria surgiu na época em que estudou teatro. “Eu adorava toda a parte de cenografia. Mas não sabia como sobreviveria daquilo. Em uma feira de estudante, conheci o curso de Design de Interiores e resolvi fazer”, relembra a profissional, que posteriormente se formou também em Design de Móveis.
Durante a segunda formação, Joici participou do Prêmio Salão Design, no qual era necessário produzir um móvel. Ela foi uma das finalistas. Foi naquele momento que ela criou a Oh! Eu que fiz – marcenaria, que à princípio fazia apenas objetos artesanais.
Em 2014, a designer estudou marcenaria na Lab Móvel e foi a virada de chave para sua carreira. A Oh! Eu que fiz – marcenaria passou a fazer móveis sob medida, que atualmente é o carro-chefe da marcenaria. “Quando comecei a buscar a marcenaria, não imaginei como seria viver disso. Fui aprendendo aos poucos”, afirma Joici.
Apesar dos móveis sob medida serem o forte da empresa de Joici, ela ainda realiza oficinas e consultorias. “A maioria das vezes sempre trabalhei sozinha. Porém, quando pego projetos de móveis sob medida, contrato outras pessoas para me ajudar”, revela.
O setor moveleiro para as mulheres
Ela explica que quando começou no ramo da marcenaria, não haviam muitas mulheres. “As minhas referências eram todas masculinas. Minhas colegas do curso de marcenaria foram as referências que tive”, explica. “Aos poucos vi que somos muitas, mas é um caminho árduo”, completa.
“Muitas [mulheres] têm que criar o próprio negócio para sobreviver de marcenaria. Nesses últimos anos que vimos mais mudanças. Mas o empreender não é tão legal, porque meio que somos obrigadas a fazer isso”, afirma a marceneira sobre as oportunidades para mulheres no setor.
“Faltam oportunidades nas marcenarias. Temos funções como projetista, para fazer acabamento, mas não na linha de produção. Não existem essas vagas disponíveis para mulheres”, lamenta Joici. “Falta treinar essas mulheres”, explica.
“Temos a capacidade de estar em todos os lugares. É um caminho longo a ser feito. Mas vejo muita diferença com escolas e lugares que abrem espaço para mulheres trabalharem. A gente tem muita mão de obra feminina, mas o investimento é um problema”, argumenta Joici. Para ela, ter o espaço físico e as ferramentas para começar no ramo é um dos problemas enfrentados.
A marceneira é contundente quando questionada sobre como outras mulheres podem se inspirar para ingressar na marcenaria:
“O mundo em si é machista, independente da área. Marcenaria é só mais uma delas. A gente [mulheres] tem que estar nesses lugares se a gente quiser encarar. Acho que conversar com outras mulheres da área sobre o ramo é o caminho”.
Joici conta que tem um grupo com outras mulheres marceneiras, no qual trocam apoio e experiências. “Somos concorrentes no mercado, mas é cada uma respeitando o seu espaço. O apoio de outras mulheres é fundamental para seguir em frente”, conclui.